Por Monique Carvalho
(Mulher com a perna engessada)
Mulher – É. Eu quebrei a perna. Nota-se,
não é mesmo? Eu quebrei a cara. Isso não dá pra notar. Só dá para sentir. Sou
uma merdinha simpática. E é isso que dá ser uma merdinha sorridente e feliz. Quem
dera eu fosse só uma merdinha, ou só simpática, ou nenhuma das duas opções. Eu
observo muito. Eu observo tudo. E de tudo que já observei conclui que quebrar a
cara é a honra dos bons. Os egoístas não quebram nada, não se humilham, não se
desculpam, não se envolvem. Porque o envolvimento também é honra dos bons.
QUERO
ARRANCAR TANTA COISA DE MIM. Primeiro de tudo quero arrancar esse gesso maldito
e esse sorriso forçado, por uma falsa simpatia, da cara quebrada. Eu não estou
bem. E quem é que percebe? Ninguém.
Sou pura
paz.
Sou pura
lua.
Sou pura
tortura.
Me sinto
incapaz de me tornar a mulher dos meus sonhos. A fortaleza impenetrável. A
desejada, amada, idolatrada. Mas por enquanto estou quebrada por dentro e por
fora.
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