sexta-feira, 19 de junho de 2015

O RETORNO DE TESEU


Por Monique A. Carvalho

Personagens:
MENINA SONHADORA
PERUA VIRTUOSA
_____

(Perua vistuosa entra em casa tranquila segurando os sapatos de luxo e a bolsa. Passa por um espelho e tenta limpar o borrado do batom cor de rosa).

PERUA - Mas o danado fez um estrago.

(Menina sonhadora está dormindo no sofá abraçada ao seu livro da Fedra)

MENINA - (acordando) Demorou, vó.

(Perua virtuosa se assusta e se apruma às pressas)

PERUA - Julinha, por que você não me disse que estaria aqui?

MENINA - Surpresa!

(Menina observa a vó de cima a baixo)

PERUA - Quem abriu a porta para você, querida?

MENINA - Quem mais poderia ser além da senhora, vó?

PERUA -  (pensativa) Sua mãe perdeu a chave dela e  seu avô está viajando à meses.

(Ouve-se o barulho da descarga)


Exercício textual proposto a partir da criação de personagens (substantivo + adjetivo).

sexta-feira, 12 de junho de 2015

DORME DOR

Por Monique A. Carvalho

(Um sofá e um abajur. Samara dorme no sofá)

SAMARA - Febre. Delírio. Minha cabeça dilata a cada palavra dita.
A multidão acelera os passos e leva minha respiração.
Se eu chorar você fica? Mas não fala nada. Hoje eu não consigo ouvir. Só a presença me basta.
As vozes me congelam. Minha mente está em contagem regressiva permanente. Sou uma bomba relógio. Sou uma bomba. Eu posso explodir em mil pedaços a qualquer momento.
Sorria pequena turbulenta, dizia minha mãe.
Não chora, criança mimada. Este era meu pai.
Minha cabeça doía. Dói há muito tempo. Devora meus pensamentos. E nada consegue se estabelecer na minha mente.
(...)

TEXTO COMPLETO AQUI.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

AO AMOR

Por Monique A. Carvalho

Personagens:
ELE
ELA
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Ele - Ao amor que eu dei. Sufoco. Sufoco. Sufoco. Tornei-me a pior metade de um ser humano. Destruí o amor que me deram. Destruí por nada. Por capricho. Acabei com o que um dia sentiram por mim. E era forte.
A vida me presenteou com ela. O mais belo presente que se pode querer. O mais dedicado amor que se pode ter. Com as mais belas histórias pra se viver. Um mundo de sonhos do outro lado do oceano. Longe de casa, família e amigos. Eu a tinha e ela tinha à mim. Eu fui amado. E eu amei.
Mas voltar pra casa me trouxe de volta à minha realidade. Cruel. Ela já não fazia parte de mim, da minha vida, dos meus dias.
Mas tentava.
(...)

Ela - Foi intenso demais pra mim, mais do que eu podia querer, ou imaginar. Mais do que um dia esperei pra mim. Mas também a causa da pior dor que já senti na vida. Meu coração foi arrancado do peito, picado em pedaços mínimos e pisoteado para não haver dúvidas. Humilhei-me. Rastejei. Implorei. Todas as noites eram lágrimas que caiam e faziam uma pequena poça em meu travesseiro.
Como se consegue esquecer alguém assim?
Como um botão que se aperta e, de repente, você não está mais em seus pensamentos. Era tão verdadeiro. Me pareceu tão verdadeiro. Para mim foi.
Todas as lembranças que tinha não deixavam claras a sua capacidade de desamar.
(...)

TEXTO COMPLETO AQUI.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

SOMOS TODOS MERDAS

Por Monique Carvalho

(Mulher com a perna engessada)

Mulher – É. Eu quebrei a perna. Nota-se, não é mesmo? Eu quebrei a cara. Isso não dá pra notar. Só dá para sentir. Sou uma merdinha simpática. E é isso que dá ser uma merdinha sorridente e feliz. Quem dera eu fosse só uma merdinha, ou só simpática, ou nenhuma das duas opções. Eu observo muito. Eu observo tudo. E de tudo que já observei conclui que quebrar a cara é a honra dos bons. Os egoístas não quebram nada, não se humilham, não se desculpam, não se envolvem. Porque o envolvimento também é honra dos bons.

QUERO ARRANCAR TANTA COISA DE MIM. Primeiro de tudo quero arrancar esse gesso maldito e esse sorriso forçado, por uma falsa simpatia, da cara quebrada. Eu não estou bem. E quem é que percebe? Ninguém.

Sou pura paz.
Sou pura lua.
Sou pura tortura.

Me sinto incapaz de me tornar a mulher dos meus sonhos. A fortaleza impenetrável. A desejada, amada, idolatrada. Mas por enquanto estou quebrada por dentro e por fora.
(...)

TEXTO COMPLETO AQUI

terça-feira, 19 de maio de 2015

DIAS DEPOIS

Por Monique Carvalho

Personagens:
HOMEM
MULHER
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(Luz baixa. Há uma mesa no centro com uma cadeira, onde uma mulher magra e muito branca se encontra sentada e dormindo com os braços estirados sobre a mesa. Um homem entra com ar autoritário. Traz uma xícara de café bem quente em uma mão e uma pasta na outra. A mulher não acorda.
O homem se aproxima sem discrição, coloca a xícara sobre a mesa, olha a mulher com curiosidade e abre a pasta procurando algo. A mulher se mexe com suavidade, mas não acorda. O Homem olha sua xícara ao lado da mulher, para de folear o conteúdo da pasta e dá quatro batidas na mesa.)
HOMEM – Acorda! (impaciente) Eu não tenho todo o tempo do mundo!
(Mulher se mexe um pouco mais e suavemente)
HOMEM – Vamos!
MULHER (ergue a cabeça muito sutilmente e olha para o homem) Já começou?
HOMEM – Já começou sim e você precisa esclarecer umas coisas. (pausa) Só para confirmarmos. Seu nome?
MULHER – Conceição.
HOMEM – Casada?
(Mulher olha fixamente o homem sem responder)
(...)

TEXTO COMPLETO AQUI.

Exercício textual proposto a partir do conto A Missa do Galo de Machado de Assis.